O pequeno jardim foi arranjado. Não gosto do chão, aquela cor é-me estranha. Ocre. Amarelado. Nem sequer pensei nas percentagens de cores porque é assim que as cores se me aparecem. Pintar tectos é do mais difícil que há, o que muito me ocupava a cabeça naquele momento do pequeno jardim. Isso e o tempo perdido, ando com isto às costas, ai o tempo perdido, ai o tempo perdido. A voz que se ouve é de Arvo Pärt e tem muita piada porque em determinada altura o velho Arvo põe-se a contar porqu está a brincar às escondidas com a miudagem dele. No documentário «Even if I loose everything» que corresponde a uma anotação de Arvo num dos seus cadernos -- foi o que percebi. Ele diz: «É assim que imagino a música, como a comida. É como um campo cheio de sementes. Não há câmaras que consigam filmar, em simultâneo, de ambos os lados (ri) centenas, milhares, milhões, biliões. Um, dois, três... estou pronto, (ri) e no bosque vai à procura dos duendes escondidos. E depois diz ainda: A música é minha amiga. Compreender, empatia. Perdoar, confortar. Uma toalha para secar lágrimas de tristeza. Uma fonte para lágrimas de alegria. Libertação e voar. Mas também um doloroso espinho. Na carne e na alma.»
Arvo tem o anel mais belo do universo: a aliança. Uma belíssima e nobre aliança que se vê. Se fosse papa, imaginando que necessitava de um papa, oh, seria sempre Arvo.
Em determinada ocasião declarou não se interessar por essas coisas de ser da Estónia e deixou bem claro que o seu poema épico era, é Jesus Cristo.
Pronto. Não tenho mais nada para contar.