NÓS AS TRÊS
Andei com estes três dentro do saco de falsa marca prada. Um bonito falso saco, pesado, como foi possível carregar com isto? Creio que da mesma exacta forma que carreguei com outras coisas ainda mais pesadas. Sem reparar, distraída. Já não ando daqui para ali com os três martelos.
AS CAMINHADAS
As imagens estão por todo o lado. Por vezes paro e caço o que vejo. Quando revejo recordo quase sempre o que ia fazer. Se era caminhada médica ou caminhada de assunto.
PARA A MADALENA
Representa uma das levas de jovens realizadores a ver a vida a andar para trás. A nova lei do cinema é manifestamente contra o cinema português. O desta realizadora e o de todos os mais ou menos jovens, dos que saem da ESTC com vontade e direito e o dever de nos devolver em filme o que aprenderam. Sobretudo a ver cinema. A observar. A viver nesta selva. Desejo a todos uma boa capacidade de resistência. Dêem-lhes luta. Façam a vida difícil aos «podres» Poderes
DIA TREZE
Gosto que gostem de mim. A Amália ia mais longe e dizia que só gostava de quem dela gostasse. Sim, há pessoas que gostam muito de mim e outras que me supreendem na forma como se lembram que existo. 谢谢
ESQUEÇO QUE É UM TELEFONE
Não uso máquina fotográfica. O telemóvel é discreto quando quero. Muitíssimo discreto. Agora também tenho uma foto do António nesta maravilhosa forma de estar.
ALI ESTÁ A PORTA
Numa manhã deste Verão, a luz apanhou-me e deixou-se apanhar. Um calor dos diabos e pensava: mas quando se me acaba este tormento para ao menos conseguir pensar.
TRÊS LIMÕES
Nem de propósito mais três. De martelos passamos a limões de limonada com flores e mel ou raspa para o bolo. Não é poesia barata. É a pura das verdades.
NOVENTA
A mãe alcançou este número do caraças. Não se canta vitória, apagam-se as velas e a vida, porra, a vida não tem sido pera doce para a mãe. Quantos netos tem a Maria João? Uma.
NOVE GIRASSÓIS
Ainda e sempre o Verão acompanha a nossa vida. Torna-se muito presente e não só pelo calor que obriga a correr gelosias durante quase todo o dia.
OLHAR PARA CIMA
Se olharmos mais para cima que para baixo, apanhamos as sombras das árvores, claro, pássaros, aves, aviões. No fundo, Deus.
SILÊNCIO
Vou dar um exemplo: ele chega a casa e bate com a porta com um estrondo desnecessário. Chega mudo. Continua mudo e ao jantar desvia os olhos quando ela fala. É terrorismo íntimo? Sim.
BICHA
A gata espreita tudo. Anda sempre atrás de mim e nesse sentido é uma gata-cão. Sabe, com toda a certeza que o adivinhou, que adoro bichos cães. Mas sendo gata tem uma graça e novidades para me dar outro tipo de trabalho.
Georgia Italic é uma fonte delicada. Sem dúvida alguma.
Um dia desenhei à mão com esquadro, régua, compasso e tinta da china a letra Y com patilha. Odiei tanto desenhar letras que ainda hoje dou comigo a contar-lhes os círculos que lhes dão a forma e o feitio. Apenas porque aprender me saiu do pêlo.
O meu tipo de letra preferido é o Helvética. Sem grandes segredos, simples, a direito. Gosto muitíssimo de Times, claro, mas ainda mais de Baskerville. A vida não seria a mesma sem Gill. Quando me tornei artista gráfica o que eu queria e devia era ser advogada e a esta hora juíza à beira da reforma. Creio que seria uma boa profissional da justiça e tenho ideia que iria ler os processos com o máximo de atenção. As leis são muito trapalhonas, não se comparam com o rigor exigido a quem desenha letras.
Agora sim, agora pode entrar o Outono e até o Inverno. Já tenho as mãos geladas.
Uma curiosidade: JiangXi, província da República Popular da China, foi o berço da mais fina porcelana. Actualmente, a tecnologia de ponta instalou-se naquela imensa terra chinesa como tudo é imenso naquele país. Em mandarim escreve-se simplesmente assim: 江西 Sem a ajuda da Linda e da Lili nunca lá chegaria. Ou levaria muito tempo de livros abertos à procura do significado de quem escreveu à mão 江 + 西 numa belíssima letra livre.