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Ontem escrevi um texto curioso sobre animais, bestioles, carraças. Perdi-o entre as múltiplas experiências nas plataformas para sites. A minha ideia é errar até acertar e sobretudo ver-me livre de quem não me trata bem. Amália dizia: "só gosto de quem de mim gosta". Não por acaso, tinha toda a razão. Se Deleuze -- continuo em Deleuze porque é mais uma das minhas paixões -- se o conhecesse casava com ele e fazia-lhe a vida feliz e negra. Raros são os homens que têm capacidade para perceber todo o mal que uma mulher é capaz de fazer tão bem. Não se percebe, contudo, porque estamos, nós mulheres, tão agarradas, coladas à nossa história de infantilização à força. "É feminista?"; "Sou e sou tão feminista que exijo a cada homem que me passa pelas mãos que me pague almoços, jantares, viagens, bons hotéis"; "isso é ser feminista?"; "Claro. Ao homem o que é do homem, à mulher o que é de ambos e isto é tão óbvio que só um estúpido grunho não percebe. Nós precisamos muitíssimo de homens que não sejam filhos das suas mamãs e que se aguentem à bomboca com mulheres que os mandam à merda, assim como lhes dizem: anda cá, meu querido: "aqui quem manda sou eu"*. E portanto Deleuze gostava de pulgas, carraças. Explicava-as sem desprezo e encaixava-as no seu lugar de bestioles ou bêtes que em português não quer dizer besta. Animal é uma palavra mais complexa e sem a voltinha clever-clever de bestas associada ao humano comportamento bestial. Sabe-se, pois, que uma carraça pode viver anos num simples ramo de árvore até cair na pele limpinha que lhe servirá de nova morada: "Un point c'est tout, et de tout le reste la tique s'en fout", Deleuze.

* De "O Barão", único filme de jeito de Edgar Pêra. Um podão do cinema português que continua a filmar porque a sociedade é caridosa. 

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