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A «Manière de Voir» nº 150 é dedicada às mulheres. A brilhante participação de Ouka Leele foi o que me levou até ao desejo de comprar a publicação. Enfim sós. A série «Invraisemblances» de 1979 - 1980 acompanha artigos de Elise Luhr Dietrichson passando pela escritora palestiniana Sahar Khalifeh ou Khalifa (nunca percebi como se escreve) autora do inspirado e meu adorado «Wild Torns» cujo exemplar não encontro no meio das pilhas de livros, uns atrás dos outros. Há-de aparecer. Convém então como «Wild Torns» se entrega a quem o lê com descrições vívidas da paisagem tensa da «promised land». Sincera, digo-me baixo: é tudo o que a pobre Alexandra Lucas Coelho quer ser e nunca será. É preciso saber viver, talvez viver com a intensidade que Sahar passa para a escrita, não sei nem me interessa se com maior ou menor facilidade. Neste nº 150, Sahar recorda o nacionalismo árabe no que ela considera serem os «anos de ouro». Assim, descreve as ruas efervescentes. Homens, mulheres, crianças, as livrarias carregadas de livros, as ideias, os debates, o espaço para a discussão rebelde e crítica. Quem imaginaria? É ela quem nos conta sobre as mulheres iletradas que começavam a sair sem véu, e das que se licenciaram. Da mini-saia, sim usava-se mini-saia: «Nous voulions vivre comme eux sans qu'ils nous dominent».

Isto neste estado de viva euforia cosmopolita até 1967, até Nasser chegar ao poder e com o armamento dos islamistas a cargo da América, mãe de todas as partes do mundo. Por esse tempo, combater a «ameaça» comunista era a prioridade dos Estados Unidos com a sua estátua da liberdade vigilante e cúmplice de Ben Laden.

O testemunho de Sahar é naturalmente informado e sentido. A referência à ocupação da Palestina por Israel em 1948 provocou uma visível degradação na vida do povo palestiniano com um impacto na condição feminina que conheceu em 1967 a mais dilacerante derrota perante os  fundamentalismos armados pela política oportunista dos Estados Unidos. Sahar acusa, sem receio, as teias que prendem os movimentos das mulheres árabes: a burqa simbólica que a escritora recusa: «le visage sombre, la tête basse, le corps informe, incapables de penser et de s'exprimer». 

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picar no link acima porque é um princípio para as mulheres que não se dão bem com as tecnologias começarem no tu cá, tu lá com as ditas. 

Já tive mais paciência. Agora gosto mais de ter tudo pronto. Os olhos fecham-se-me enquanto olho para o computador. Não aguento mais o tempo que aguentava enquanto desenhava um blog muito engraçado: my life is a game. Creio que nem no Web Archive se apanha. Foi a minha primeira tentativa de rebentar com os templates que tornavam tudo igual. Depois, como de costume, apaguei mais de metade. 

Se tenho uma obra, deve ser esta. A que fica pelas centenas, são centenas, de experiências feitas por aqui. Raramente assinadas. Nada divulgadas. Entre outros segredos esquisitos que podiam não ser segredos. 

Passei horas da minha vida a experimentar códigos, a estragar o que fizera de tão belo. Tenho a mania que terei sido das primeiras a dar a volta a isto dos blogs. Depois, um António de longe explicou-me que as imagens estavam partidas e que as devia hospedar algures. Li tanto sobre isto, quase até à exaustão. Mas foi o António quem resolveu muita da minha graça.  

Parte da revolução passa pela compreensão desta língua. Não a que estás a ler, mas a que suporta o que lês, as imagens, cores. 

Mona Chollet nunca me encantou. Demasiado moralista para meu desgosto, desta vez surpreende-me com «Vendre son corps, une étrange liberté» porque associa a prostituição à oleada máquina capitalista. Com argumentos interessantes, Chollet atira-se à esquerda como gato ao bofe. Creio que se refere à esquerda que ela conhece e com quem convive: a esquerda rebelde, impostora que das suas recheadas bibliotecas e retórica do caraças, «pensa» sobre a prostituição. De facto, puta que pariu esta esquerda. Calha-me tão bem o palavrão. 

Na pornografia, que não me ofende, encontro o mesmo olhar conservador da mesmíssima esquerda. Mesmo que não perceba muito bem porque insisto em chamar-lhe esquerda. A pornografia é conservadora porque nos retira, por completo, a capacidade de fantasiar. Quando se olha a coisa porno, somos literalmente encostados à parede, despossuídos.  

Os dias correm opacos, estranhos. Olho para o meu corpo magro, agora mesmo magro e sinto-me bem. Deitada, observo o tecto como me calha ser habitual enquanto não penso, penso, durmo, adormeço, leio ou converso. Os meus pensares andam muito dedicados à injustiça. 

Portugal continua no mesmo exacto sítio apalhaçado. Vejo muita televisão. Stendhal escreveu no dia 31 de Dezembro de 1804: «Je pourrais faire un ouvrage qui ne plairait qu'à moi et qui serait reconnu beau em 2000». No dia 4 de Março: «Les livres immortels ont été faits en pensant fort peu au style». Acabo por escangalhar-me a rir. 

À noite vejo novelas, ou oiço-lhes o enredo, os diálogos que uma vez retirados da imagem têm um peso mais cómico que os profissionais do humor. 

O Bloco de Esquerda alinha com o PS no aumento do salário mínimo para 557 euros. E aqui estou a escrever isto antes de ir ver do Correio da Manhã, passar os olhos pelo Público e comprar raspadinhas onde invariavelmente me saem euros. Poucos, mas bons. 

Ando a repetir inúmeras vezes: «o raio que os partam» e mais nada. 

00:27 Quando é que isto tudo acaba e de vez?

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