«Bisonte». Daniel Jonas, o poeta português que mais me interessa. Não por ser genial, superior. Li poemas que considero fracos, não bateram, contudo Jonas recorda-me Ruy Belo, um dos poetas nada celebrado. Como se esquecem autores em Portugal, um país tão pequeno? Em todo o lado é tal e qual assim, o que nada me alegra.
Folhas de árvore da borracha de um dos poucos jardins intersticiais de Lisboa actualmente virada do avesso.
Bruxelas é a cidade europeia com maior densidade de verde, árvores, arbustos, flores. Matas, a floresta, os lagos, os pântanos.
De todos os livros importantes, este será o mais
de todos. Não por vir embrulhado na colecção de luxo, mas por isto que traduzo ao voo da ave: as crianças chinesas ainda recitam os versos de Li Bai (701-762).
Se bem percebo a cultura chinesa carrega o peso pesado da sua cultura cheia de paradigmas temáticos e formais.
A paisagem, sempre a paisagem nos «poemas de montanhas e de água». Copio agora a palavra que corresponde a esta marca da Natureza: shanshui shi. Repito-a em voz alta. Tem piada recordar a modulação da voz. Já percebi mais do que oiço, quando oiço mandarim (cantonês escapa-me). Calo-me e fico atenta enquanto mexo nas toneladas de inutilidades chinesas, a maioria de fabrico rasca, baratas e sem qualidade.
Traduzir do chinês, digo por dizer: chinês, deve ser das maiores traições deste mundo e do outro. Imagine-se uma língua monossilábica, poli-tonal, muito concisa.
O nome e o adjectivo não se modificam em género, número e não se declinam, não há verbo que se conjugue, o tempo não tem tempo e a frase? Organiza-se conforme os elementos e segundo uma ordem e é aqui que se faz a relação, a ideia ganha a vida merecida. Económica língua das línguas. Agora, depois de fechar esta página tão curiosa, porque me refiro a esta minha curiosidade, irei ler os poemas de Gu Cheng nascido mais ou menos quando eu e Céu acima em 1993. Precoce desaparecimento.
你和我 Nǐ hé wǒ | Tu e Eu
Tu serás sonho
Eu serei vento
Um dia serei capaz de escrever sem acrescentar um ponto que seja. Nunca tive na minha mão livro mais exigente. E belo.
De resto, a mesa das mesinhas está cada dia mais suja, não vale a pena limpar. Serviu bem o longo Verão dos calores medonhos, mal o sol permitia sair do buraco e comer, ler, escrever, conversar, rir de tudo e todos. Agora, chegou a altura de arrumar a mesa das mesinhas e mais as cadeiras, retirar o chapéu de sol e observar "a influência dos raios gama no crescimento das margaridas".