Ao fim de tantos anos, entrar pela porta grande da faculdade
mais inesperada apenas para os que me desconhecem.
Os mesmos tectos altos, a frescura do mármore, o chão lavado
e a miudagem entregue às praxes. Parei à porta do anfiteatro.
A Madalena e a Margarida estrearam finalmente «A Casa e os Cães» no Indie. Fui ver com a mãe um filme veloz e lento, carregado, denso, emoções para quem é dado a estas. Eu não sou, mas senti-me comovida porque é a minha filha adulta e o filme levou muitos anos a aprimorar. As realizadoras têm brio. Sei que o discutiram entre elas/eles. Aquele grupo único de pesssoas muito lidas, muito activas nas discussões e ideias sobre o mundo. Nada lhes escapa e a curiosidade é o motor. Quem não percebeu isto, não percebeu um boi do que viu. O que é legítimo. Todos os parvos e parvas têm mãe. Não como eu. Nunca como eu ou como a mãe. A avó sentada a ver a estreia da neta.
E depois apareceu o Jorge. Grande alegria. E a Maria João Bravo, a Sabina, a Pandora. A Cláudia. O Pedro, a Maria sentada ao lado da João, a Gita, o Gonçalo, o Francisco. Todos, todas, todxs.
Fui a Benfica tratar de assuntos e passei pela antiga escola onde o José Virgilio, meu antigo marido, dera aulas. Fiquei parada a pensar no que tinha mudado. Na realidade, nada. Ninguém muda. Eu sou a mesma, com os mesmos valores, a mesma curiosidade quase infantil, o meu romântico modo de ver as paredes. O José Virgilio também o mesmo. Não vou aqui explicar quem é, mas perante tanta distração minha, o que pudesse contar seria surpreendente para quem o conhece no contexto social. Esta é a verdade. Não a minha verdade, mas a verdade.
Contudo, diz-me a minha intuição que homens e mulheres, a maioria que conheceu o casal, nós, se está nas tintas para isto.
Um divórcio cheira sempre a confusão e as pessoas odeiam confusão. Embora quando a balbúrdia lhes bata à porta precisem de quem as oiça e compreenda, apoie, testemunhe.
É mais fácil mostrar o crescimento dos filhos nas redes sociais, mostrar o «je suis charlie» da ordem e a cidadania está feita. Pimbas!
Nem todos e todas e todxs são assim. Felizmente!
Phonics! Que gente esta.
- Pierrot!
- Je m appele Ferdinand.
O nome do pai da Catarina Casanova. Levei tempo, mas encontrei. Este «evento» surpreende quem passa na estação do metro Baixa-Chiada. Centenas, milhares de nomes de homens e mulheres vítimas da repessão salazarenta. Presos, torturados, alguns mortos.
Falem-me em Portugal dos «brandos costumes» e é impossível não pensar nesta parte da história portuguesa. Há quem queira, à viva força, deitar tudo isto para debaixo de um tapete de Portugal moderníssimo. Cavaquento.
Muitos destes nomes pertencem a pessoas ainda vivas e os descendentes sabem contar tudo, não esquecem nada. Portugal de Salazar foi uma ditadura com um ditador que odiava elites, cultura, pessoas. Morreu velho e feio. Aquele nariz afilado, o rosto sem boca, sem bondade. A pestilência ainda a sinto no ar.
Andei no fundo dos mares, sem grande visibilidade, a tentar descobrir pargos. Eram sargos.
Os peixe-aranha são notáveis na forma como se confundem com a areia.
Comi pouco e bem.
Li pouco. Ainda bem.
Dormi muito. Que bom.
Não liguei pevas à política nacional e internacional. Percebi coisas, não sei bem o quê. De repente, interessa-me o livro do Juan Branco e um outro indicado pelo Guerreiro numa das suas últimas crónicas.
Na papelaria onde comprava os jornais, uma senhora perguntou:
- Tem o livro «A Gorda» da Isabela Figueiredo?
A senhora era realmente muito gorda.
- Não temos nada dessa editora.
A senhora saiu desiludida. Creio que esperava encontrar um espelho para ler.
As pessoas lêem para se lerem ou lêem para se espantar?
E os escritores «tipo» Figueiredo, querem o quê?
A Madalena falou-me do «Infinite Jest», «La Broma Infinita», «L'Infinie Comédie» que comecei e abandonei. Eis o exemplo de um livro onde ninguém se encontra e todos nos perdemos. Em meu fraco entender, este é o grande serviço da literatura boa.
Ora o DFW matou-se. Muito triste e chato. Por momentos fui blasée. Não consigo. A morte dele impressionou-me muito. Suicidou-se. Um escritor brilhante, dos maiores do mundo de ontem e hoje. Merde.
Deixo-vos a ligação para Clémentine Goldszal a ler precisamente o citado livro. Deixem-se de tretas porque ela o lê muito bem. En français.
Ora palmas!